Vida
Adolfo Correia Rocha nasce a 12 de agosto de 1907 em S. Martinho de Anta, concelho de Sabrosa, distrito de Vila Real, entre a "terra quente" de xisto do Douro e a "terra fria" de granito do nordeste transmontano. A aldeia, húmus que alimenta a sua infância, surge com o nome Agarez no romance autobiográfico A Criação do Mundo, numa projeção mítica do torrão natal.
Cresce numa família pobre, honrada, determinada a rasgar-lhe horizontes. O pai, Francisco Correia Rocha, louro, de olhos azuis, é a estaca vital. A mãe, Maria da Conceição de Barros, olhos quase verdes, voz doce, o calor do regaço sentimental. Faz a quarta classe com distinção. Criado de servir no Porto, um ano no Seminário de Lamego, a certeza de que não quer seguir o sacerdócio. Aos treze anos parte para o Brasil para trabalhar na fazenda do tio, em Leopoldina (Minas Gerais). Regressa cinco anos depois, faz o liceu em três anos e conclui a licenciatura em Medicina na Universidade de Coimbra, em 1933, com média de 15 valores. Regressa a S. Martinho de Anta, e exerce depois em Vila Nova de Miranda do Corvo, em Leiria e, por fim, em Coimbra.
Em 1934, adota o nome literário Miguel Torga. Miguel em homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica, Cervantes e Unamuno. Torga em homenagem à urze da montanha, de raiz dura e flor branca ou arroxeada. Viaja pela Europa até Itália, atravessando uma Espanha ferida pela Guerra Civil. O livro "O Quarto Dia" de A Criação do Mundo (1939) é apreendido, o escritor é preso em Leiria e depois levado para o Aljube, onde permanece durante três meses. Na prisão escreve o poema "Ariane" e alguns dos contos que compõem o volume Bichos.
É um autor insatisfeito, escreve em duplicado, à máquina com papel químico. E reescreve. Emenda à mão, corta tiras de papel que cola em cima das folhas. Os seus dias são diário, poesia, romance, conto, teatro, páginas de intervenção. Médico dedicado, especialista em ouvidos, nariz e garganta, em 1940 abre consultório no Largo da Portagem, nº 45, em Coimbra, onde exerce durante mais de cinquenta anos. Viaja incessantemente por Portugal e pelo mundo, registando a paisagem física, social e cultural. É caçador também, esquerdino na arma, rijo de pernas, atira a perdizes, coelhos e lebres por serras e montes. É um dos mais influentes poetas e escritores portugueses, autor de uma vasta produção literária. Laureado com diversos prémios literários nacionais e internacionais, recebe o primeiro Prémio Camões em 1989 e é proposto cinco vezes ao Prémio Nobel da Literatura. Durante muitos anos, é editor dos seus próprios livros.
Morre a 17 de janeiro de 1995. É sepultado no cemitério de S. Martinho de Anta, em campa rasa, com uma torga por perto.